Era uma vez, no coração montanhoso da Eritreia, um menino chamado Kidané, que nasceu na cidade de Asmera. Esta cidade, com suas ruas de pedras antigas e suas casas coloniais, carregava o peso e a beleza de uma história longa e profunda. Asmera, com suas altas altitudes e céu imenso, parecia abraçar cada vida com o calor do sol e a força da terra. A Eritreia, com seu povo orgulhoso e resiliente, sabia o que era resistir, superar e encontrar beleza nas dificuldades.
Kidané cresceu em uma pequena aldeia nos arredores de Asmera, onde as tradições se entrelaçavam com o cotidiano. Seus pais, agricultores humildes, ensinavam-no a cultivar a terra, mas também a valorizar os laços que uniam a comunidade. Desde cedo, Kidané demonstrou uma coragem e generosidade raras, sempre disposto a ajudar quem estava em necessidade, seja compartilhando comida com vizinhos ou ajudando a construir uma casa. Ele sentia uma conexão profunda com a natureza, como se cada planta, cada árvore, cada pedra carregasse um segredo de sabedoria ancestral.
Mas havia algo mais em Kidané. Enquanto as crianças da sua idade corriam pelas colinas e brincavam pelas estradas poeirentas, ele sentia que seu destino era maior do que as fronteiras de sua aldeia. Ele tinha uma habilidade rara de ouvir o vento, como se as brisas carregassem mensagens de lugares distantes. A noite, quando todos estavam adormecidos, ele se sentava na beira de uma montanha e escutava o sussurro das estrelas, sentindo-se como se conversasse com os espíritos dos ancestrais.
A vida de Kidané, no entanto, não seria marcada apenas por tranquilidade e harmonia. Quando ele tinha 17 anos, uma terrível seca devastou a Eritreia. A terra seca não produzia mais, os rios encolheram e os animais morreram. As aldeias ao redor de Asmera estavam em crise, e a fome ameaçava destruir a paz da comunidade. Foi nesse momento que Kidané, em uma decisão que o marcaria para sempre, liderou um grupo de jovens da aldeia para buscar ajuda. Mesmo sem experiência, guiado pela coragem e pela confiança que sempre tivera na solidariedade, ele caminhou por dias até a cidade de Asmera.
Ao chegar à cidade, Kidané procurou os líderes locais, mas o acesso era restrito. Vendo o desespero nos olhos de seu povo, ele subiu, sozinho, até o topo de uma das colinas mais altas de Asmera, com uma visão de toda a cidade abaixo. Ali, em uma oração silenciosa, ele pediu ao céu que os ajudasse. Sua alma era pura, sua determinação inabalável, e suas palavras pareciam ecoar nos ventos. Foi então que algo extraordinário aconteceu: uma brisa suave, que trazia consigo uma sensação de tranquilidade, envolveu Kidané como uma capa protetora.
Naquele momento, os arcanjos, as entidades celestiais que observam as ações humanas, perceberam a força e a pureza de Kidané. A conexão com a natureza, a generosidade e a coragem que ele demonstrava eram reflexos de um espírito nobre que poderia transcender os limites da mortalidade. Assim, ele foi escolhido para ser um anjo, um guardião da Eritreia e de todos os que habitam sua terra, recebendo o nome celestial de Seraphiel, o “Guardião das Montanhas”.
Como anjo, Kidané – agora Seraphiel – não deixou de lado o amor e a dedicação pela sua terra. Ele se tornou uma presença constante nas aldeias, guiando os corações dos humanos e ensinando-os a proteger a terra, respeitar a natureza e cuidar uns dos outros. Sua habilidade de escutar os ventos e as estrelas se amplificou, tornando-se um poder divino para comunicar-se com aqueles que mais precisavam de orientação. Ele ajudava os agricultores em suas plantações, ouvia os murmúrios das árvores e os rios, e sempre encontrava formas de trazer alívio para os necessitados.
Sua história como humano, marcada pela coragem de buscar ajuda nas horas de desespero, refletia perfeitamente sua missão celestial. Como anjo, ele trazia a esperança não apenas através de gestos tangíveis, mas também por seu exemplo de amor altruísta. Para os eritreus, Seraphiel era mais do que um anjo – ele era a personificação de sua cultura de resistência, solidariedade e respeito pela terra. Sua presença no céu das montanhas lembrou a todos que, como as pedras antigas de Asmera, a verdadeira força vem de onde a terra e o espírito se encontram.
E assim, até hoje, Seraphiel continua a velar pela Eritreia, guiando as gerações futuras, ensinando-os a cultivar a coragem e a generosidade que um dia moldaram sua vida humana e o tornaram um anjo eterno.